Monday, December 29, 2008

viajei

Viajei no tempo-espaco ontem, fazendo planos para A Incrivel Jornada. Nao vai acontecer logo, na verdade nem sei quando, mas acho que deve. Do Rio de Janeiro 'a Belem do Para', sem planos de albergue, hotel ou o que for. Ir em quanto tempo der, e voltar nem sei como. Passaremos por Vitoria, Belo Horizonte, Ouro Preto, Porto Seguro, Salvador, Aracaju, Maceio', Recife, Olinda, Caruaru, Joao Pessoa, Natal, Fortaleza e Sao Luis.
Quando cheguei em Sao Luis, meu coracao apertou. A Oeste de Sao Luis, e ao Sul, as cidades ficam esparsas, as estradas ficam esparsas. Nao tem cidade entre Belem e Macapa'. Minto, tem Breves, a cidade do
Forrozão Marajoara. Mas me espantou a falta de estradas, a falta de tudo. E' uma imensidao de nada, um deserto de mato. E me dei conta que nao falta, nao: tem todo o mato, toda a vida que nos, peregrinas, conheceremos - um dia.

Sunday, November 02, 2008

estômago

vinte vezes se virou pra trás

pensando que seria a última.

te recolheu do chão,

te levou pra casa
te deu café e água

pensando que seria a última.



fim do mundo,
não fosse teu choro de cão
pedindo meu carinho ready-made.

Tuesday, October 28, 2008

Um

Viu-a ali, gargalhando enquanto tentava um passo de gafieira com um barbudo com cara de terceiro semestre de algum curso da humanas da universidade pública, gratuita e de qualidade. Os cabelos compridos balançavam, sujos, na cadência dos dois quadris, quase um, e ele imaginou a multidão desaparecendo e o corpo nu da menina dançando só na luz fraca do seu apartamento no topo da cidade alta.

Monday, October 27, 2008

recollections of the first fall

recollections of the first fall

afternoons downtown
hiding from the world in some
tiny hole on the ninth floor. the sun
caresses our skin, i crawl
under you-blanket,
you open the
window.

half of you smokes a cigarette,
and the other half is mine.



the evening chaotic,
you say you worry that
i'm staying for too,
too long
and i say it's
just a monday like
every other monday and
if i leave you'll be

alone.



but the mornings at your place,
like your peach green tea, taking
samples of our breath and
saliva
crumbling on
your bed, you
and i and your son
and your sesame seed
crackers and my boy
and your ex
wife

and my tears, your chet baker.

Sunday, October 26, 2008

impotente

não consigo me desatar das cordas do teu violão.

Sunday, October 12, 2008

Aquático

Nao trago os olhos abertos
Mas sinto o gosto ardendo oriente
antes de chegar 'a boca.
Cheiro da casa azul-marinho em lacos cor-de-laranja.
Agua pra benzer, a sul daqui os barcos flutuam
irreverentes.

Thursday, July 31, 2008

um silêncio pra te dizer

O gosto do café queimado não me pareceu tão ruim, nem o fato de serem de gergelim os biscoitos no pote me alegrou ao me lembrar de um outro dia em que. Foi o afago que eu precisava no dia, a caixa de correspondência em greve. Uma senhora trouxe, disse que não precisava dizer o nome, tu vai saber quando abrir. Quem será quem será meu deus. Senhora? Pensei tia vó madrinha que mora longe. Na sacolinha meu nome com a letra inconfudível - só vi depois. Uma caixa, mas antes da caixa, os recortes de jornal que cuidadosamente encapavam a caixa. Sou loira média, da terceira idade, aquariana, viúva, bem sucedida; Leão:sua importâncio se __através do serviço út__ ___tar as outras pessoas, ____so este que as pessoas, de puro ingratas... Scorpions detetives.
O humor só podia ser da do casaco verde. Ô do casaco verde, ô campinho de futebol, ô grama sintética, não tá esquecendo a demarcação da área, não? O tempo do térreo ao sexto andar passou enquanto eu tentava abrir o presente - que já sabia que era um presente -, o jornal atrapalhando o meu entendimento da anatomia da caixa. Abri; uma maçã.
Será que é dela mesmo, pensei - que da última vez tinha sido margaridas, que mania de ser orgânica. Mas por debaixo da maçã tinha um papel dobrado daquele jeito que só nós dobramos - estilo ensino fundamental. Acabaram-se aí os questionamentos quanto ao remetente, dois pontos. Minha pequena! e entre as frases ensaiadas, pensadas e por fim escritas com palavras escolhidas a dedo e letras caprichosamente desenhadas com a caneta bonita na folha branca e de linhas - muito importante - pretas, me perdi. Me perdi também sentindo o cheiro do xampu no meu travesseiro. Guardo de ti grandes coisas, Dias de Sol na pracinha, uma rodada pra cada uma. Aquela última noite em que achamos o que éramos nas páginas de um bloco escondido no fundo de uma (outra) caixa. Momentos de tanto tédio, de tanta incerteza, de tanto erro - mas sempre a cumplicidade característica -, assim te sentirei perto. A maçã - delírio- , vou comer com todos os dentes e sentir na garganta todo o gosto de.

Thursday, June 26, 2008

IV (dos livres)

janeiro chegou mais cedo
e com toda a gentileza
típica dos ímpares
me despedaçou.

Tuesday, June 24, 2008

III (dos livres)

o verão vai embora do meu corpo
e leva junto o caminho que as pontas dos teus dedos
percorreu na minha pele.

Wednesday, May 28, 2008

balzaquiana

Uma delícia de encontrar. Falava tanto e com tanta propriedade que até eu acreditei, no começo, que aquilo era tudo verdade. Verdade, nada. Tem gente que precisa de uns tombos pra se mostrar inteiramente - e digo pra todos: ser autêntico é ser feliz. Vide a balzaquiana. Agora está contente e amando, talvez pela primeira vez. Um amor que me emocionou tanto que até acordou um cantinho romântico em mim e me encheu de lágrimas nos olhos. Nunca vi tanto amor em tão poucas palavras, e espero um dia poder sentir um amor assim como esse que jorra do peito dela e que tem vida própria. Ela está até mais bonita. Mais velha, como todo mundo, mas mais limpa, mais séria e mais madura. E depois de ouvir todas as suas teorias geracionais, espirituais e olhar os desenhos da filha prodígio, me dei conta que esse tempo que passou tão depressa nos fez bem.

Thursday, May 15, 2008

tempo de criar

- (...)além de que a virada do século dezenove proo século vinte foi marcada por invenções revolucionárias - tinha aí a eletricidade, o motor, que vai ser usado nos carros, tinha
- a roda, também...

gêmeos

-... e até hoje os americanos pensam que foram os irmãos Wright que inventaram o avião, embora Santos Dumont já seja reconhecido em alguns lugares.
- não era os irmãos Grimm?

Tuesday, May 06, 2008

poil de carotte

Não sei como nem por quê, mas ontem me lembrei do primeiro romance que li na vida. Foi "Foguinho", do Jules Renard, aos seis anos. Sentava no sofá em que batia sol, depois do almoço, na casa do meu avô e lia por horas, ou até a hora de ir pro colégio. Não entendia muito bem o que se passava, só achava divertido ficar ali, advinhando o significado de palavras novas e acompanhando as travessuras do menino, principalmente porque traçava um paralelo com um coleguinha que só pode ser explicado pela cor do cabelo. A edição tinha ilustrações sombrias, como a do capítulo "O Cofre", na qual aparecem Foguinho, careca, segurando o pulso de Matilde, nos fundos da casa dela, enquanto, da janela, a Sra. Lepic ralha com os dois. A casa aparenta ser suja, a grama está grande e o fato de Foguinho aparecer careca me dava arrepios. Hoje, procurando entre outras valiosas heranças da farta biblioteca do meu avô, encontrei o livro em condições lamentáveis, mas estou reformando-o e pretendo lê-lo novamente.

Friday, April 25, 2008

Então, fiz minha primeira matéria. Segue:

"A rua possível
A história da trabalhadora que está nas ruas

Os cabelos brancos já começam a surgir na cabeça e um filho pequeno ainda requer a atenção da mãe que, cansada, senta estrategicamente na saída do supermercado. “Eu sei que é errado estar na rua – eu quero parar”, diz Dona Maria, 34, sobre sua situação. Natural de Três Irmãos, a ex-operária viveu em Novo Hamburgo, onde trabalhava na indústria calçadista, até que, por conta da crise de 1995, veio com o marido para Porto Alegre, onde se estabeleceram no Morro Santana, na zona leste da cidade. Hoje, seu marido é papeleiro. Quando questionada sobre sua escolaridade, Maria diz que ”naquela época não tinha isso de ficar pedindo, eu não fui educada assim. Fiz até terceira série porque eu cuidava dos meus irmãos.” Com cinco filhos, ela logo se explica “já fiz ligadura, depois desse aqui”, apontando para Iarley (homenagem ao jogador do Internacional), de um ano. Por causa do filho, Dona Maria diz que não pode trabalhar: “Eu perdi o serviço porque a creche fazia inscrição em Novembro e quando eu fui já não tinha mais. Mas ano que vem ele entra.” Andressa, 5,segunda mais nova sonha em ser cantora. “Essa aí canta tudinho, sabe todas as músicas da novela” conta a mãe, orgulhosa."

Tuesday, April 15, 2008

pros universitários

Me avisaram tanto que eu achei que era brincadeira que a Ciências Sociais era cheia de (anti)partidarismos. Não há uma só reunião na qual pelo menos 50% + 1 consigam se entender, e aí nada acontece. Uns tem delírios de luta contra a ditadura (da coca-cola, do mc donalds, do orkut), e mencionam as grades de vidro a cada cinco linhas de discurso. Outros, ainda na linha "da luta", falam da constante submissão ao sistema (e de como a única maneira de haver paz é a destruição de todo poder). Ainda outros enchem o saco e começam a dizer gritos de guerra, baixinho ou em eventuais pausas (fora neoliberais! a universidade é nossa!). Vê bem, não to criticando nenhum grupo em especial - até porque, se estivesse, já teria sido linchada.
Saio das reuniões sempre frustrada e arrependida, e tenho certeza que não sou a única, nem uma em dez. Eu vejo que todos saem descontentes e ainda assim - e cansei de me perguntar por quê - tudo continua do mesmo jeito.
Acho que fui eu, mesmo, que enchi da política.

Saturday, March 22, 2008

II (dos livres)

como quem olha um quadro,
te entendo aos poucos.
parece que com os anos vamos ficando mais parecidas, em vez de iguais.
Brincava com a chave enquanto pensava qual foi a última vez que tinha entrado no apartamento. Quarta ou quinta, tinha ido levar as roupas do hospital pra lavar. Quatrocentos e onze, o número repetido diversas vezes, em tantos ligares, pensava - e que coincidência. Abriu a porta e sentiu o frio na barriga de quem entra num sótão velho. Que estranho, há três dias era só uma casa. A estante cheia de livros, pensou quantos teria lido, e se ele se lembrava. Era ela que ia, a filha escolhida, comprar os livros na praça da Alfândega com o pai. E depois liam e discutiam, esse personagem é isso ou aquilo. Não é que ele não fosse uma boa pessoa, ele só era teimoso. Arrogante, chamavam. Mas na verdade era um intelectual, interessado nos mais diversos temas: mineralogia, engenharia naval, psicologia, química, canários, peixes...
Foi até o quarto e começou a encaixotar as roupas. Achou tudo, quanta coisa guardada e umas até sujas, o cheiro de cigarro. Encaixotando viu as cadernetas, várias. Globo, pequeninha. Sabia rue o pai sempre anotava, pra não esquecer, da lista do super às resoluções de ano novo. Numa dessa achou, escondidinho no meio de todo o resto da vida senhora do velho: "comprar: 3 isqueiros brancos, 3 isqueiros coloridos"
E lendo isso não pôde, não pode, pensou. Que era, mesmo, e ele queria comprar porque ela, ela sempre roubava os isqueiros do pai. Botava na bolsa e voltava sempre de isqueiro perdido de novo. E ele, sempre muito franco. Sempre dizia o que pensava e propôs que teria sempre isqueiros brancos, que seriam os dele e portanto intocáveis, e isqueiros coloridos, que seriam os próprios para roubo. Ela deitou na cama e queria chamar pai, eu te devolvo todos os teus isqueiros, mas ela sentiu o cheiro no travesseiro e não pôde.
Na saída, pegou um livro da prateleira, pensando que tantos ainda havia para encaixotar.

Tuesday, February 26, 2008

I (dos livres)

De sonho sem po' e' destino de todos -
quem for, pode sentar e tomar meu cha'
de erva doce ou orange pekoe,
e usar da minha hospitalidade.
Limpo a casa, o mar me escuta
fez frio e o que aquece aqui dentro e' sao essas ideias
de mim-mesma.
As arvores, que feias, tao sem-folhas que sao canicos,
Mas sem jeito, sem a tua prosa, nem vento nordeste
que ficou la' naquela tarde em que eu te contei
Como fazer um lar.

Okey Doke

Thursday, February 07, 2008

Se eu dissesse que nao importasse, e se eu usasse a minha gramatica francesa pra tentar te mostrar o quanto eu (nao) aprendi de escrita sofisticada na minha vida de leitora de blogs e contra-capas da Zero Hora tu me dirias que esperava por tudo isso, e nada mais. Mas se eu te contasse uma a uma cada frase que eu ouvi na minha vida ( e isso levaria mais uma vida, correto?) tu haverias de conver que as algumas seriam as do disk-mtv da Rulia Rones. Quais? Diz-me tu.